Análise Tática: desgaste pesa no empate entre Fluminense e Junior Barranquilla

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Mesmo com uma vitória e um empate, o Fluminense não teve vida fácil (principalmente fora de campo) contra os adversários colombianos do grupo, Santa Fé e Junior Barranquilla. Na semana passada, a partida contra Los Cardinales precisou mudar de cidade na véspera porque a Prefeitura de Bogotá — que vive uma situação crítica em relação a pandemia — proibiu a realização de jogos. Desta vez — por causa dos protestos contra a Reforma Tributária na Colômbia —, o confronto contra Los Tiburones precisou mudar de país. Mas, apesar do desgaste e da arbitragem confusa, o Tricolor conseguiu voltar do Equador com um ponto.

Antes do jogo, o presidente Mário Bittencourt revelou que a delegação estava física e mentalmente desgastada. Afinal, foram sete horas de viagem até Barranquilla, no norte da Colômbia, um treino e mais duas horas de viagem durante a madrugada até Guayaquil, no Equador.

E o lado mental pesou ainda mais com a arbitragem do experiente Julio Bascuñan. O chileno deixou de marcar faltas para o Flu e ainda assinalou um pênalti inexistente de Kayky. A terceira penalidade máxima marcada contra o Tricolor antes dos 10 minutos nos últimos cinco jogos.

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De pênalti, o ex-palmeirense Miguel Borja, abriu o placar para os mandantes — embora estivessem jogando em outro país. O gol acuou o Fluminense. De acordo com dados do SofaScore, o Tricolor terminou a primeira etapa com apenas 73% de aproveitamento nos passes, errando 16 dos 97 que tentou.

Kayky se torna o mais jovem a marcar pelo Flu em Libertadores

Mas vantagem de Los Tiburones não duraria muito. O Fluminense voltou a balançar as redes com uma de suas principais armas: a bola parada. Nenê cobrou o escanteio, Luccas Claro desviou na primeira trave e o jovem Kayky, com a tranquilidade de um veterano, empatou. Detalhe para a defesa do Barranquilla que, após o primeiro toque se concentrou no centroavante Fred — responsável até então por todos os gols do Flu na Libertadores — e permitiu que o garoto ficasse livre para marcar.

Kayky comemorando o gol de empate do Fluminense contra o Junior Barranquilla
Com 17 anos, 10 meses e 25 dias, Kayky superou Wellington Nem, em 2011, e se tornou o mais jovem a balançar as redes pelo Fluminense (Foto: Mailson Santana/Fluminense Football Club)

Entretanto, depois do gol, Bascuñan voltou aos holofotes. Mesmo com o jogo agressivo dos colombianos, a partida terminou com apenas 21 faltas marcadas, sendo 11 do Fluminense e 10 do Junior. Além disso, o árbitro deixou de punir com cartões as entradas duras dos jogadores do Junior como esta sobre Nenê, por exemplo.

O meia, aliás, já havia recebido um cartão amarelo por reclamação. Nino e Danilo Barcelos também foram punidos antes de Bascuñan distribuir cartões também para o Barranquilla.

Fluminense volta melhor, mas sente desgaste e fica com empate contra o Junior Barranquilla

Por outro lado, o segundo tempo começou animador. Logo aos 6 minutos da etapa complementar, Nenê cruzou e Fred obrigou o goleiro Viera a defender com só uma das mãos.

Mas não tardou para o cansaço enfim bater no lado tricolor. A partir de então, o Flu já não demonstrava o mesmo ímpeto para pressionar o Junior Barranquilla pela bola na transição do ataque para defesa.

Lance perigoso do Junior Barranquilla contra o Fluminense
Depois de perder a posse no campo de ataque, o Fluminense demorou na recomposição, abrindo espaço para o Junior. Yago Felipe até cortou na entrada da área, mas os jogadores do Barranquilla — que estavam chegando em maior número ao ataque — passaram a ganhar também a segunda bola. Por fim, Pajoy chutou e a bola passou raspando a meta defendida por Marcos Felipe. Em lance semelhante, Borja obrigou o arqueiro tricolor a fazer mais uma grande defesa (Framme: Reprodução/ESPN)

O mesmo acontecia quando os colombianos iam propor o jogo. Enquanto Fred e Nenê ocupavam uma faixa mais a frente, as duas linhas de quatro — que vem sendo adotadas durante os jogos da Libertadores — recuaram para proteger a entrada da área e, com o passar do tempo, os espaços começaram a surgir.

Outro lance perigoso de Los Tiburones
Com as linhas muito baixas, abriu-se espaço para o meia Pajoy, eleito melhor em campo pela Conmebol, finalizar de fora da área. As três finalizações que tentou na segunda etapa passaram com perigo (Framme: Reprodução/ESPN)

Quase brilha a estrela do treinador

Para tentar solucionar os problemas defensivos, o técnico Roger Machado optou por trocar toda a linha ofensiva. Primeiramente sacou Luiz Henrique e Kayky para colocar Gabriel Teixeira e Caio Paulista. O objetivo era ter jogadores mais descansados para fechar os lados e com fôlego para puxar os contra-ataques.

Luiz Henrique disputa a bola no empate entre Fluminense e Junior Barranquilla
Mais uma vez sacrificado em prol da marcação, o mapa de calor de Luiz Henrique mostra que o atacante ocupou mais espaço no campo de defesa do que no campo de ataque (Foto: Mailson Santana/Fluminense Football Club)

Depois, pôs em campo Cazares e Bobadilla nas vagas de Nenê e Fred. Curiosamente, as substituições foram as mesmas da partida contra o Santa Fé, mostrando que o treinador já tem suas preferência para o Torneio Continental.

Contudo, o Tricolor continuou sem chegar próximo do gol adversário. Seja por cansaço ou por postura (ou até pelos dois), o Flu não conseguia fazer um jogo aproximado no campo de ataque — prova é que o Time de Guerreiro trocou ainda menos passes na etapa final, só 46 com 83% de aproveitamento. Assim, as tentativas de arrancadas com a bola de Caio Paulista e Gabriel Teixeira acabaram sendo ineficazes do ponto de vista ofensivo (embora servissem para descansar a defesa da pressão do Junior).

Além disso, o desgaste começou a pesar também nos mais jovens como Calegari e Martinelli, por exemplo. Os três passes que cada um errou aconteceram justamente na reta final.

Por fim, quase que o talento individual decidiu o jogo em favor do Fluminense. Nos minutos finais, Cazares acertou um passe-chave no peito de Caio Paulista — que se mostrou decisivo na temporada 2020 com gols marcados no final —, mas desta vez o atacante bateu por cima do gol de Viera.

Após empate com Junior Barranquilla, Fluminense segue líder

Enfim, depois de uma verdadeira odisseia nas últimas semanas, o Fluminense termina os dois jogos na Colômbia com quatro pontos na bagagem e segue líder do grupo, empatado com o River Plate, mas à frente nos critérios de desempate.

Além disso, o Tricolor teve um alento em meio a todo esse desgaste. Após um acordo com a companhia aérea onde o Flu fretou o voo, o clube pôde retornar do Equador diretamente para o Brasil, economizando quatro horas de viagem.

Agora, o Time de Guerreiros volta a campo no próximo domingo (09), às 16h, contra a Portuguesa pela partida de volta da semifinal do Campeonato Carioca e, conforme o regulamento, joga por um empate para chegar a segunda final consecutiva.

ST

Lucas Meireles


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Lucas Meireles

Jornalista formado pela UFRRJ, apaixonado por esportes e pelas boas histórias.

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