Celso Barros quebra silêncio e comenta sobre a situação do Fluminense

Compartilhe

Com a recente e inesperada eliminação do Fluminense na Copa do Brasil para o Atlético-GO, Celso Barros voltou a conceder entrevista e comentou sobre o resultado ruim do Tricolor.  O vice-presidente geral do clube que, anteriormente a ser afastado pela diretoria no fim do ano passado, comandava o futebol – em entrevista ao GloboEsporte.com na última sexta-feria – lamentou a fatídica eliminação, já que a única competição que resta para o clube é o Campeonato Brasileiro.

Diferentemente de muitos torcedores, Celso Barros não condena o técnico Odair Hellmann como culpado das eliminações. O dirigente coloca a culpa pela fase do Tricolor das Laranjeiras em cima do presidente Mário Bittencourt:

– O culpado maior não é o Odair, o grande culpado é o Mário. Odair hoje no Brasileiro está em 10º, um aproveitamento muito melhor que o Diniz na época. Pode ser até que para frente piore, mas o Odair é produto do elenco que entregaram a ele.  Se quiser discutir técnico, contratação de A ou B, vide os atletas do Cruzeiro rebaixado que vieram, que se discuta. Mas o Mário foi o grande responsável pelo elenco, assumiu o futebol sozinho, descartou um acordo politico que existia entre eu, ele e o grupo dele. E infelizmente o resultado está sendo bem ruim.

Você conhece nosso canal no YoutubeClique e se inscreva! Siga também no Instagram

Celso Barros foi eleito com Mário Bittencourt em junho de 2019 e permaneceu no cargo até novembro, quando foi afastado pelo próprio presidente que alegou que Celso, ao pedir a demissão do técnico Marcão causou uma desestabilização do ambiente e criado uma crise política enquanto o clube lutava para escapar do rebaixamento na temporada.

Na entrevista em questão, o vice-presidente não se segurou em demonstrar a mágoa pelo seu afastamento, todavia ainda evite virar oposição para as próximas eleições. Contestou que o rompimento com Mário somente foi prejudicial ao Flu e tirou a credibilidade da instituição no mercado, reclamou sobre a falta de patrocínios e disse se sentir desconfortável “por não poder fazer nada”. Confira a entrevista na íntegra:

Se estivesse ainda no comando do futebol, o que faria?

– Não vou aqui comparar situações. Eu acho mais desagradável nisso tudo, isso foi falado lá atrás, é que eu e Mário fomos eleitos dentro de um compromisso de lutar para não apequenar o Fluminense. Ele assumiu comigo o compromisso que eu trabalharia na coordenação do futebol. Evidentemente, nós entramos e aconteceram aquelas coisas que as pessoas sabem. Eu acabei saindo dessa coordenação, e aí na situação de vice geral, tricolor como sou e pela história que consegui lá atrás, vejo com muita tristeza esse processo que a gente trabalhou para fazer mudanças importantes no clube. Principalmente clube de futebol. Nesse aspecto, acho que não está evoluindo legal. No futebol precisariam ser feitas várias mudanças, não são nomes específicos, mas uma série de situações. Comentei com o Mário lá atrás que existiam alguns feudos no futebol do Fluminense. Ele respondeu que feudo existe em qualquer lugar. Eu não concordo com essa ideia. Se existem grupos para serem mantidos a qualquer preço, cabe ao gestor de futebol e ao presidente dizer que isso não existe. Isso já foi um problema inicial, nem vou falar de “Flusócio”, essas coisas. Mas o Mário tem muita dificuldade em mudar as coisas.

No que diz respeito ao planejamento da temporada, acha que ocorreu algum erro?

– Contratação de jogador você sempre vai errar, mas tem que minimizar ao máximo, acertar mais do que errar. Mas vai errar, seja eu, ele, qualquer um. Quando trouxe o Cícero e o Soares, o grande nome era o Soares, acabou que quem deu certo foi o Cícero. Então isso acontece, seja quando eu estava lá, seja agora na formação do elenco. Mas hoje, o grande responsável, e ele desejava isso ao promover a minha exclusão, chama-se Mário Bittencourt. Quis assumir uma posição que sabe tudo. Se houve erro ou não, esse planejamento é de responsabilidade dele. Ele pode ouvir um ou outro, mas tenho absoluta certeza que nada sai dali a não ser o que é fruto da vontade dele. A vida é assim. Se tivesse avançado na Copa do Brasil, na Sul-Americana, se ganhasse o Estadual, o responsável também seria o Mário. Ele que assumiu isso, trouxe para ele toda essa responsabilidade.

A eliminação foi mais dolorida pelas falhas do Muriel?

– Muriel falhou, tudo bem. No primeiro gol acredito que sim, no segundo foi uma porrada à queima-roupa. Mas isso é uma análise técnica, tem o treinador de goleiro, se acharem que hoje o reserva é melhor, coloquem ele para jogar e o Muriel no banco, não tem problema nenhum. Agora, querer condenar um jogador que salvou o Fluminense ano passado, não porque veio comigo. Como o Orinho, que veio comigo e com a direção toda; o Luccas Claro, que hoje é considerado entre aspas o melhor zagueiro do mundo e estava lá esquecido; o Nenê, que apesar da idade é o artilheiro do Brasil hoje. Mas isso tem um conjunto da obra, do elenco. Esse ano perdeu o Evanílson, ano passado saíram Luciano e Everaldo. Você perder jogadores cria dificuldades para o clube. Entendo a necessidade de ter que vender seus melhores atletas da base para pagar salário. Enfim, isso é ruim. Eu lembro, até no próprio patrocínio, jogador da base que jogou mais tempo foi o Marcelo. Não me recordo desses jogadores de base que serviram para conquistas de títulos no profissional. O Fluminense sempre vende em condições inadequadas, de desespero. Lembro que o presidente dizia que tinha que vender o Pedro. Eu fui à reunião com ele, cheguei um dia e falei: “Minha preocupação é do ponto de vista técnico, vai ser uma m*…” Ele disse: “Mas tem que vender”.

Você em algum momento esse ano tentou uma reaproximação com o Mário?

–  Já tentei umas quatro, cinco vezes. Ano passado, esse ano… Eu liguei na Taça Rio, o cumprimentei, ele mandou mensagem que era a vitória do amor, da dedicação. Mas ele sistematicamente foge de um encontro comigo. As pessoas pedem como se eu tivesse poder de chutar a porta, não faz meu perfil isso. As pessoas que me conhecem e conhecem o Mário diziam que nós dois juntos não duraríamos um mês. Durou um pouco mais. O comando do futebol era algo que estava combinado caso a chapa fosse Tenório e Mário. Eu tinha intenção de estar na coordenação do futebol, talvez até remunerado. Como o Tenório saiu, acabei virando o nome (para a vice-presidência). Faltando uns 20 dias para a eleição, falei para o Mário que não queria ficar na vice-presidência geral, achando que poderíamos ter problemas de relacionamento. Estava começando a sentir dificuldades de entendimento no futebol entre eu e ele e falei: “Eu saio, você coloca outro no meu lugar, e eu vou apoiar”. E ele: “Não, não vai ter problema nenhum, vai ser conversado tudo”. Infelizmente isso não aconteceu.

Ficar afastado assim não o incomoda? Continua não querendo sair para ser oposição?

– Foi criado um clima para que eu fosse sumindo do futebol de uma forma totalmente indelicada. Houve o problema do Diniz, depois o Fluminense perdeu para o Atlético-MG, e eu fiz uma reunião dura com os jogadores de cobrança. Podia ser menos dura? Podia, mas eu fiz. Eu não fiz nada para vazar. Mas quando querem, eles vazam. Não tem essa história de não poder cobrar. Eu não fui cobrado na Unimed? Faz parte. Tratei todos com respeito, mas fui um pouco mais forte, não tenho estilo frouxo. Quando cheguei, fiz um churrasco com eles (jogadores), foi uma confraternização muito legal. Mas na hora em que sou gestor e vejo a coisa indo para uma situação que não é desejada, tenho que me posicionar. Não posso ser omisso. Ficar afastado me incomoda muito. Até porque foi uma eleição, não vou dizer que foi difícil, mas nós tínhamos todas as chances de vitória, e isso aconteceu num capote. Tivemos o dobro de votos da outra chapa. Mas fica uma imagem triste do que foi prometido por nós. Se ele está cumprindo a parte dele, eu gostaria de mais uma vez pedir desculpas à torcida. Me sinto desconfortável porque meu nome está na situação e não posso fazer nada. Essa historia de virar oposição, não acho que seja o caminho nesse momento.

Qual o peso da falta de patrocínios fortes hoje, como o master, em sua visão?

– Durante a campanha, quem levantou muito a historia do sócio futebol fui eu. Presidi uma empresa que patrocinou o Fluminense por 15 anos e sei que com essa crise econômica que vinha vivendo o país seria cada vez mais difícil arrumar essa história do patrocínio master. Por isso dizia que o maior patrocínio do clube seria o torcedor. Se 100 mil pagassem R$ 30, seriam R$ 3 milhões por mês, R$ 36 milhões no ano. Que patrocínio paga isso hoje? Qual erro foi cometido na gestão? Não adianta acreditar que o patrocínio virá de um atleta só, que por uma série de situações ainda não jogou. Acho que o erro é esse. Não tentar mostrar ao torcedor que essa contribuição ajuda o time. Claro, tem que ter um bônus, ganhar camisa… Mas o que tem que ser vendida é a paixão pelo clube, esse recurso ajudará a ter equipes fortes. Mas aí pega o Fluminense hoje, vê que essa direção não tem unidade com essa situação vivida pelo presidente e o vice geral, que deveria coordenar o futebol pelo acordo feito, e isso fragiliza a visão do torcedor. “Poxa, os caras estão brigados lá. Vou acreditar em quê”? nquanto isso, você tenta no mercado. Mas não adianta achar que minha casa pode valer R$ 2 milhões se não tem ninguém que compre. Tem que tentar alguns ajustes. A marca do Fluminense hoje está desvalorizada. Não para o Celso, para os torcedores, mas no mercado está desvalorizada pelos resultados. Hoje quais são os valores que o clube recebe pelas marcas no uniforme? A maioria é de parcerias. Eu fazia muita questão de não permitir nenhum penduricalho na marca do Fluminense na era Unimed. Hoje isso é muito difícil, não sou desses de não entender isso.

O que mais o senhor enxerga de errado na gestão?

– Alguns conceitos devem ser mudados. Está circulando um vídeo em que o Mário pede para o Miguelzinho e o Nenê cantarem “Mário Bitcoins”, aí eles cantam. O Mário se exibe na FluTV. O canal de comunicação serve em parte para promover o presidente do clube, acho um equívoco. Devia mostrar momentos alegres, tristes e muito mais focados nos jogadores, eventualmente o técnico. Também acho desnecessárias essas coletivas longas, não vejo valor maior para o clube. É difícil ver um presidente de clube falar tanto, estar tão exposto, porque normalmente tem o vice de futebol ou o diretor executivo. Tem que acabar com isso “time de guerreiros”. Isso foi criado em 2009, foi um momento. Se fosse realmente time de guerreiros não teria essa atuação nesses dois jogos (contra o Atlético-GO). Futebol não pode ficar rotulado. Tem também os “moleques de Xerém”. A base é fundamental, mas não é feita para construir resultado no profissional, infelizmente. O moleque aparece e logo é vendido, aí fica esse discurso “moleques de Xerém”. O time de 2007 tinha quatro da base: Fernando Henrique, Junior Cesar, Arouca e Carlos Alberto. O dos Brasileiros de 2010 e 2012, acho que só tinha o Nem. Você ganha título com jogador bom. Se a base tem, vai ajudar, mas não pode ser usada de um jeito como se fosse tudo na vida. São jovens, tem as suas dificuldades e precisam ser aperfeiçoados. O Fluminense tem que dar uma repaginada na estrutura do futebol do clube. Lamento que não consegui fazer nada, mas acho que ali tem alguns problemas de feudos. Se o presidente acha que isso existe em tudo que é lugar, mas na minha opinião deve ser combatido. Nem cheguei a combater nada, quando ele viu que eu seria um problema para ele armou essa história de me tirar lá do futebol. Queria pedir desculpas a quem acreditou no projeto do futebol que não deu certo. Pode ser que mude, e tomara a Deus que mude, mas é difícil mudar da forma como é administrado.

ST


Compartilhe

15 thoughts on “Celso Barros quebra silêncio e comenta sobre a situação do Fluminense

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *