De ídolo à técnico por uns dias: A trajetória de Ailton Ferraz no Fluminense

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Lembrado sempre por ser o “autor oficial” do gol título do Campeonato Carioca de 1995 – seu nome é o que consta na súmula -, Ailton ficou por pouco tempo no Fluminense. Após um ano no clube, em 1996, o então meia trocou o Tricolor das Laranjeiras pelo time de três cores do sul do país, o Grêmio. Mas ficou eternizado na história tricolor, quando tirou o Charles Guerreiro para dançar e mandou a bola que consagraria a barriga de Renato Gaúcho, dando números finais ao maior Fla-Flu de todos os tempos. Duas décadas e meia depois, o hoje auxiliar técnico volta aos holofotes, comandando o time enquanto Marcão cumpre o isolamento por conta da COVID19.

Meia habilidoso, Ailton defendeu o Olaria ainda na base, mas começou a carreira mesmo no rival Flamengo. O então jogador ainda passou por Guarani e pelo Kashiwa Reysol antes de chegar ao Fluminense em 1995. Em Laranjeiras, atuou ao lado de ídolos da torcida tricolor como Renato Gaúcho e o artilheiro Super Ézio, por exemplo.

Com Ailton Fluminense foi campeão carioca em 1995
Em pé: Wellerson, Ronald, Sorlei, Márcio Costa, Lima e Lira; Agachados: Ailton, Djair, Renato Gaúcho, Leonardo e Rogerinho. Este é o time que entrou em campo contra o Flamengo pela última rodada do Campeonato Carioca de 1995 (Foto: Reprodução/Fluminense Football Club)

Quis o destino que o Cariocão disputado por pontos corridos reservasse um Fla-Flu decisivo na última rodada da fase final. O Rubro-Negro, que completava seu centenário e tinha grandes nomes como Branco, Sávio e Romário, eleito melhor jogador do mundo em 1994, por exemplo, era amplamente favorito. Mas o Fluminense contava com a mística do maior clássico do futebol brasileiro.

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“Autor oficial” do gol do título de 1995

Foi o Tricolor, que precisava da vitória para se sagrar campeão, quem abriu o placar. O atacante Renato Gaúcho abriu o placar e o centroavante Leonardo, que substiuira Super Ézio, ampliou. Isso tudo só no primeiro tempo.

Mas, na segunda etapa, o Fla reagiu. Com um jogador a mais após duas expulsões do Fluminense e uma do Flamengo, o Rubro-Negro diminuiu com Romário e seis minutos depois empatou com Fabinho. Quando a torcida rival já começava a gritar “é campeão”, eis que surge o momento que colocou Ailton para sempre na história do Flu. O próprio explicou o lance em entrevista à Flu-Memória.

O gol surgiu de uma forma que eu tinha falado com o Ronald, eu disse para ele que só tinha um jeito de vencermos esse jogo. Eu iria ficar aberto na direita e quando ele pegasse na bola tocaria em mim. Eu saí driblando e quando vi era o Charles na minha frente, eu iria chutar, mas ele me fechou, cortei para um lado e para o outro e finalizei, ela resvala no Renato e sai o gol, o gol do título“, disse o ex-meia após 25 anos do título carioca.

“O gol é meu”

Todos os narradores, do rádio e da televisão, gritaram o nome de Ailton antes de perceber que a bola tinha batido na barriga de Renato Gaúcho antes de estufar as redes do Maracanã e o atacante sair para comemorar sozinho na direção oposta. Quem também não viu o desvio foi o árbitro Léo Feldman, que anotou o nome de Ailton como autor do gol na súmula oficial do jogo. O ex-árbitro até os dias atuais não admite o equívoco e explica.

“Não teve intenção. No meu entendimento ele não teve intenção de bater com a barriga na bola, a bola que bate nele. Na época, os locutores todos gritaram gol do Aílton, lembro do Penido, Garotinho, todos narraram gol do Aílton. Só depois, com as câmeras de trás, deu para ver a barriga do Renato. Quando um atacante chuta, a bola bate no zagueiro e entra, de quem é o gol? Do atacante! Foi a mesma coisa que aconteceu”, disse Feldman em entrevista a ESPN.

Visão de Ailton antes do gol de barriga de Renato Gaúcho para o Fluminense
Visão no ângulo de Ailton momentos antes do chute encontrar a barriga de Renato Gaúcho (Foto: Reprodução/Fluminense Football Club)

É gol com nome, ‘gol de barriga’, né? E todo mundo diz que é do Renato. Mas o que consta na súmula não é isso! O gol é meu, mas eu divido com ele, porque é meu parceiro e foi muito importante para a gente“, brincou Ailton em outra entrevista ao UOL.

Carreira vitoriosa como jogador

Antes do título de 1995 pelo Fluminense, Ailton havia conquistado os Campeonatos Carioca de 1986 e 1991. Ambos pelo Flamengo. Depois do Flu, o meia viveu a fase mais vencedora enquanto vestia a camisa do Grêmio.

Pelo Tricolor dos Pampas, em 1996, o jogador conquistou o Campeonato Gaúcho, o Campeonato Brasileiro e a Recopa Sul Americana.

Ailton ainda voltaria a ser campeão carioca em 1997 pelo Botafogo e chegou a conquistar um Campeonato Paraense em 1999 defendendo o Remo. Além disso, o meia defendeu Ponte Preta, Cabofriense, Madureira, União São João e Paraná antes de aposentar em 2002 enquanto vestia a camisa do Uberlândia.

Ailton como treinador até retornar ao Fluminense

Auxiliar de Jorginho no América em 2006, Ailton começou a carreira de treinador no próprio Mecão em 2007. Depois o ex-meia passou por equipes de menor investimento do futebol carioca como, por exemplo, Cabofriense, Volta Redonda, Resende e Duque de Caxias.

Em 2010, voltou a auxiliar Jorginho. Acompanhando ex-lateral da Seleção Brasileira campeã mundial de 1994 no Goiás, Figueirense, Kashima Antlers, do Japão, e Flamengo.

Em 2014, retomou a carreira de treinador e colecionou passagens por Resende, conquistou o único título da nova carreira, a Copa Rio de 2015, e América, novamente. Além de Audax Rio, Tupi, Brasiliense e Portuguesa-RJ. Em todos, fez um trabalho relativamente curto. O clube que o treinador comandou por mais jogos em uma temporada, por exemplo, foi o Tupi, com 27 jogos no ano de 2017.

O ex-meia do Flu retornou ao Tricolor em 2019 para ser coordenador técnico da categoria Sub-20. Com a saída de Odair Hellmann e Marcão sendo efetivo no comando time, Ailton, portanto, herdou o posto de treinador do Fluminense Sub-23 no Brasileirão de Aspirantes. Posição que teve de deixar enquanto o treinador afastado se recupera da COVID19.

Ailton como técnico do Fluminense
Predestinado, Ailton estreou como treinador do Fluminense justamente em Fla-Flu (Foto: Mailson Santana/FFC)

Comissão técnica “muito tricolor”

Quando se trata de entrar para a história do Fluminense, os jogadores do atual elenco podem buscar inspiração na própria comissão técnica do Tricolor. Além de Ailton, Marcão também foi jogador e ídolo do clube. Tendo disputado, entre 1999 e 2006, 357 partidas com a camisa do Flu e conquistado o Campeonato Brasileiro da Série C, em 1999, e os Campeonatos Carioca de 2002 e 2005. O volante se tornou uma figura querida pela principalmente pela raça dentro de campo.

Enquanto o auxiliar Ailton é o comandante, o posto de auxiliar está sendo ocupado por Edevaldo de Freitas, ex-lateral revelado pelo Fluminense no fim da década de 1970 e que fez parte da convacação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 1982. Pelo Flu, Edevaldo Cavalo — como era conhecido sobretudo pela força e velocidade — conquistou o Carioca de 1980;

Edevaldo de Freitas no comando do Fluminense Sub-23
Edevaldo de Freitas também assumiu o comando do time Sub-23 no Brasileirão de Aspirantes enquanto Ailton comanda o time principal do Fluminense (Foto: Mailson Santana/Fluminense Football Club)

Com Ailton, o Fluminense volta a campo na próxima quarta-feira (13), às 21:30h, diante do Corinthians na Neo Química Arena. O Tricolor ainda vive a expectativa de chegar ao G6 e, portanto, se classificar para a Copa Libertadores da América após oito anos.

ST

Lucas Meireles


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Lucas Meireles

Jornalista formado pela UFRRJ, apaixonado por esportes e pelas boas histórias.

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