LEONARDO BAGNO – Enorme

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Tricolores,

Nelson Rodrigues tem uma penca de frases que sintetizam o que é ser Fluminense. Sempre que o leitor quiser entender um pouco o que é o Fluminense e sua torcida deve recorrer ao que diz o profeta tricolor. Até porque ninguém foi melhor do que ele nesse aspecto.

Recorrerei a algumas delas, começando por uma que explica poeticamente a diferença entre nós e eles e que pavimenta a nossa conversa para que eu consiga apresentar – e o leitor compreender – o que aconteceu aqui na minha vizinhança, no bairro de Laranjeiras, durante e, principalmente, depois da final da Taça Rio de 2020.

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O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente!

Todo flamenguista que se preze é soberbo, muito por conta do tamanho da sua torcida e da megalomania que a própria instituição cultua, fora o que a mídia repercute por puro interesse comercial. Estar em maioria, portanto, é o normal e comportar-se dentro dela é algo corriqueiro e familiar para eles.

O tricolor, por sua vez, diante de seu arquirrival, está acostumado a ser minoria. Atualmente, ainda mais dado o abandono da torcida em clássicos contra o Flamengo. Afinal, era comum, ainda que em menor número, dividirmos as arquibancadas do Maracanã em jogos contra eles ao longo da década de 80 e início da de 90 (apenas para pegar anos nos quais frequentei o estádio). Eu mesmo já presenciei a nossa torcida maior algumas vezes. Teve um Rio-São Paulo, por exemplo, que a nossa era esmagadora maioria. Mas deixemos isso de lado.

Retomando o raciocínio, o que eu quero dizer é que o tricolor sabe se portar em minoria quando em decisões contra o Flamengo. E não se diminui por conta disso. Muito pelo contrário. Agiganta-se. Basta ir a qualquer Fla-Flu para constatar o tanto que a nossa torcida canta em jogos, decisivos ou não, contra eles. É simplesmente maravilhoso e espetacular.

Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual não se pode – e nem se deseja – fugir.

E comportamo-nos assim porque sabemos que somos especiais. Que ser Fluminense é algo sobrenatural, fantástico, que transcende o óbvio e tem aversão ao normal. Qualquer um pode ser flamenguista. Tricolor não.

O tricolor é diferente. Isso porque o Fluminense não é um clube de futebol qualquer que entra em campo para disputar uma partida e pronto. O peso do seu nome, a beleza de suas cores, o subliminar sorriso do seu escudo e a fineza e elegância que o conjunto todo emana impõe ao adversário, sem que este tenha consciência disso, um estado puro e pleno de admiração que, ao tricolor, causa verdadeira paixão. Tanto que…

Uma torcida não vale a pena pela sua expressão numérica. Ela vive e influi no destino das batalhas pela força do sentimento. E a torcida tricolor leva um imperecível estandarte de paixão.

Justamente por conta dessa paixão, desse orgulho que sentimos pelo Fluminense, “Pode-se identificar um Tricolor entre milhares, entre milhões. Ele se distingue dos demais por uma irradiação específica e deslumbradora”.

Essa característica que temos, que nos diferencia principalmente deles, essa consciência coletiva de que somos especiais, dá ao tricolor um olhar crítico em relação ao que acontece ao seu redor.

Engana-se quem acha que a escolha de um time para torcer é um ato banal, como se escolhe o almoço do dia ou o filme da noite.

A escolha de um time para torcer, para fazer parte dessa família, além de seguir contigo ao longo da sua existência terrena, é definidora e modeladora de personalidade. Há uma influência direta na vida da pessoa.

As guerras lutadas pelo Fluminense, seus valores, suas conquistas e suas quedas forjam o caráter de seu torcedor que leva, inexoravelmente, toda essa carga histórica para dentro da sua vida, influenciando, assim, suas relações familiares, pessoais e profissionais. Em outras palavras, o tricolor lida com o mundo de uma maneira única, própria. Só nossa.

O pioneirismo do Fluminense, ao longo de toda a sua História, sua liderança exercida sobre os demais, seja na fundação da Federação de Futebol do Rio de Janeiro quando apenas se remava por aqui, seja combatendo o nazismo quando o Brasil flertava com a Alemanha para apoiar este regime nefasto, traz para o tricolor um senso-crítico apurado, incomum, que o faz não aceitar o que lhe é ofertado sem antes compreender e formar sua própria opinião.

E somos assim porque “O Fluminense não nasceu para ser unanimidade nem massa de manobra do interesse demagógico das elites opressoras. O Fluminense nasceu para atravessar a harmonia do bloco dos contentes. Nasceu para incomodar o senso comum. Essa é a nossa sina.”

Oito de julho de dois mil e vinte. Pandemia. Isolamento social. Final da Taça Rio. Sem torcida. Fla-Flu. Um a um no tempo normal. Disputa de pênalti. Quinta e última cobrança do Flamengo. Clássico placar de três a dois. Muriel pula para a direita. Defesa. Fluminense campeão da Taça Rio.

Como se o Brasil tivesse feito o oitavo gol e virado o jogo, após tomar sete da Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo disputada no nosso país, o bairro de Laranjeiras explodiu como eu nunca presenciara em mais de 34 anos morando por aqui.

Idosos, adultos, jovens e crianças – homens e mulheres – gritavam Nense como se avisássemos a um distraído que um meteoro estava em rota de colisão com a Terra.

O que aconteceu de diferente, senhoras e senhores, é que todos os tricolores daqui estavam em casa em vez de estar no Maracanã, nosso lugar.

E o grito de campeão, mesmo que de um turno de uma competição deficitária e desprestigiada como é o Carioca, mas que carregava uma importância ímpar por tudo o que vínhamos sofrendo, particularmente o que se sucedeu ao longo do dia, foi ensurdecedor. Libertador. Constrangedor. Opressor. Tricolor.

Eles, que estão acostumados em ser maioria, viram-se em estupenda e deliciosa minoria. Não por acaso, foram, no alto de sua soberba, às janelas para reclamar do barulho (!). Das altas horas. Clamaram pela lei do silêncio. Apelaram, vejam só, aos filhos pequenos que dormiam. Ainda que o fizessem paradoxalmente aos berros para serem minimamente ouvidos. Não conseguiram.

Ontem, os flamenguistas de Laranjeiras dormiram ainda mais de cabeça quente. Incomodados com a dura realidade que já é de nosso conhecimento nato e que Nelson Rodrigues assim simplifica:

Grandes são os outros, o Fluminense é enorme.

Saudações Tricolores,

Leonardo Bagno

 

ACRÉSCIMO DE TEMPO: + 4

 46min: Não sei o que acontecerá na final (quem sabe?). Nosso time é tecnicamente inferior. Contudo, se jogar do jeito que jogou ontem, comendo a grama e defendendo a nossa camisa com o brio demonstrado, pode até perder, mas fará bonito. Futebol é o único esporte que possibilita resultados que não condizem com a qualidade apresentada pelos times em disputa. Bola para o alto, consciência, atenção e calma. Sim, é possível.

47min: Se a transmissão da final não for compartilhada, não há a menor possibilidade de a FlaTV receber a minha visita para acompanhar o segundo jogo da final. Acompanharei pelo rádio com prazer. Depois eu vejo nos canais esportivos os gols do nosso título.

 48min: Quando o jogo é contra eles e vale taça, o caminho dela normalmente é o das Laranjeiras.

49min: Orgulho de ser tricolor.

 


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7 thoughts on “LEONARDO BAGNO – Enorme

  • 09/07/2020 em 23:22
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    O fato é que enquanto o time do Maionese teve pulmão, ou seja, durante mais ou menos 60 minutos, nosso gol quase não foi ameaçado. Depois disso, estava lá Muroel.

    A lamentar, mais uma vez, só a pressa da Fernojo pra marcar esses jogos domingo e quarta. Se fosse domingo e domingo, não tinha pra ninguém.

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