LEONARDO BAGNO – Que saudade do Fluminense!

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Tricolores,

Que saudade do Fluminense! E de tudo o que ele traz a reboque: a torcida; o estádio; a cerveja no pré-jogo; os amigos de Maracanã; e o placar dizendo para nós que a nossa saída ocorrerá exatamente por onde nós entramos (não, desta parte eu tenho é ojeriza!).

Por falar em placar e saudade, lembro-me que, quando criança, perdia um tempo considerável vendo as animações, todas pixeladas por conta da resolução do placar à época, que eram exibidas na década de 80. De todas, tinha preferência por duas: a do goleiro caindo sentado no chão com a bola passando por cima dele quando havia gol na partida; e o pai entrando no estádio com a criança empunhando uma bandeira do seu time do coração quando a renda era anunciada.

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Na primeira animação, sempre ficava pensando que o goleiro do time era “frangueiro”. Isso porque ele caia sentado no chão e o adversário dava um chute que, se ele permanecesse em pé, a bola bateria no seu peito, sem precisar fazer esforço algum para isso. Crianças…

Na segunda, eu tinha absoluta certeza que aquela animação era, na verdade, eu e meu pai chegando no Maracanã. Isso porque eu entrava no estádio exatamente daquele jeito: com uma das mãos segurando a do meu pai e a outra segurando uma pequena bandeira do Fluminense, escorando-a nos ombros.

Bandeiras que estão devidamente proibidas de entrar no Maracanã. Quer dizer, para entrar com elas é preciso passar por uma burocracia maior do que a exigida pelo Estado para o licenciamento anual de um automóvel. Algo inconcebível na década de 80. Muitos torcedores levavam suas bandeiras, cada uma com desenho e tamanho diferentes, formando um mosaico deslumbrante e hipnótico.

Época que os jogos não passavam na televisão. Aliás, não passavam porque havia uma regra que proibia a transmissão das partidas para as cidades onde elas ocorriam. O objetivo da regra, imposta pelos clubes (imaginem só!), era determinar um limite para as redes de televisão de forma que a transmissão do jogo não concorresse com o interesse do público em ir ao estádio.

Não é à toa que cada vez menos gente vai aos jogos de maneira geral e não somente nos do Fluminense, mas principalmente nos nossos.

O nosso arquirrival está na contramão desta tendência e os fatores para isso são vários, dentre eles: os jogadores que eles vêm contratando por valores europeus, o oba-oba natural deles, a atmosfera que a imprensa cria em torno do clube para vender mais seu produto/serviço e a demanda represada que havia dentro da torcida flamenguista, uma vez que o ambiente que existia nas arquibancadas deles afastava do Maracanã a elite, que agora paga os olhos da cara para brincar de estádio, algo que todas as outras torcidas já fazem há décadas. Ou faziam, considerando que praticamente ninguém mais vai aos jogos.

Mas deixemos os caras para lá. Fato é que cada vez menos torcedores há nos estádios. Do Fluminense, então, nem se fala. A torcida entrou numa espiral de não ir aos jogos há mais de 10 anos. Nem quando vence ela vai mais, pois a nossa média de público em 2012 foi uma das piores da história dos campeões nacionais por pontos corridos.

Alguns explicam que o que ocorreu em 2012 fica por conta de os jogos serem disputados no Engenhão, estádio que nenhuma torcida consegue encher. Pode até ser. Aliás, só pode ser, mas que é estranho, é. Afinal, no jogo contra o Cruzeiro, em 2012, assim como contra o Guarani, em 2010, tinha gente ocupando todas as cadeiras do estádio e, do lado de fora, mais um bocado querendo entrar.

De qualquer maneira, não ficarei surpreso se uma campanha para a construção de estádios menores começar a surgir dentro dos clubes e apoiado pela própria imprensa. Seria uma solução ganha-ganha para todo mundo.

Acompanhe o raciocínio. Com menos espaço dentro dos estádios, imediatamente ocorrerá a sua valorização, já que quanto menos lugar para ver o jogo tiver, mais caro ele ficará porque a demanda será maior do que se poderá atender. Exatamente o inverso do que acontece atualmente no Maracanã. Nele, o que sobra é espaço e sem demanda para ocupá-lo. Logo, aumentar o preço do ingresso só fará com que se afugente ainda mais as pessoas.

Isso porque estádio cheio cria uma atmosfera convidativa, atraente, que um estádio semi-ocupado não gera. Exemplo: um estádio para 25 mil pessoas com 20 mil presentes gera a atmosfera mencionada acima. O Maracanã, com capacidade para 80 mil pessoas, com as mesmas 20 mil presentes não chega nem perto de criar. Pelo contrário, dá impressão de estar vazio, frio, sem vida.

Portanto, um estádio mais acanhado gera a valorização do ingresso, torna mais factível a criação do efeito caldeirão – a tal da atmosfera – e fica muito mais interessante de transmitir para outras pessoas. Ou seja, o estádio amontoado de pessoas ficaria bonito na telinha da Globo.

Como disse, todos ganham! O clube aumenta a sua renda com menos gente dentro do estádio, assim como aumenta o seu desempenho em casa por conta do efeito caldeirão, que intimida adversários menos experientes. Já a televisão terá mais gente para alcançar por conta do parco tamanho do estádio e ainda transmitirá um jogo muito mais atraente para seu público-alvo.

O único que perderá com isso é o torcedor desafortunado. Este, cada vez mais alijado dos estádios, terá dificuldades de ir aos jogos porque os preços dos ingressos serão proibitivos. O futebol caminha cada vez mais para longe do povo. Não é coincidência ele estar tornando-se insosso. Sem calor. Sem pulso. Ah, e nem falei do VAR, que tirou do espetáculo a explosão, a catarse coletiva, pós-gol!

Bom, sorte a minha que experimentei no verdadeiro Maracanã, com mais de 100 mil pessoas presentes, o gol de barriga, com bandeiras, sinalizadores, pó-de-arroz, placar pixelado e sem VAR (imagina esta coisa pós-gol de barriga!)! Torço para que todas as crianças tricolores, a começar pela minha filha, consigam experimentar isso uma vez na vida, pelo menos. Quem sabe assim elas sentirão saudades do Fluminense, como eu estou sentindo agora.

Saudações Tricolores,

Leonardo Bagno


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