LEONARDO BAGNO – Saudade de você

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Tricolores,

Por mais que eu tente me esforçar, não consigo me lembrar qual foi o primeiro jogo do Fluminense que eu fui. Lembro-me de ver um Portuguesa x Fluminense, na Ilha do Governador, com gol marcado pelo Romerito. Lembro-me também de uma virada contra o Grêmio, no Maracanã, com gols do Washington. Lembro-me, por fim, de ter ido num Fluminense x São Paulo com Maracanã bem cheio, 1×0 logo no início do jogo. O fato é que, independentemente do resultado, o que realmente me encantava – e ainda encanta – era a torcida. Sempre foi.

Ver aquela multidão nas imediações do estádio, todos de verde, branco e grená, era mágico. O cenário de desordem, com pessoas correndo, gritando e pulando e rojões explodindo, era fascinante. A fila para comprar ingresso e depois a fila para entrar no estádio, na qual você era literalmente arrastado pela multidão, insistiam em demonstrar a transformação que ocorre quando deixamos de ser meros torcedores e tornamo-nos parte integrante da torcida, algo muito maior e deslumbrante.

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As bandeiras, milhares delas, que eram levadas pelos torcedores comuns, assim como as das Organizadas, formavam um cenário hipnotizante. Aquele embaralhamento de panos de inúmeros tamanhos, todos nas nossas cores, que tremulavam desordenadamente, acompanhado pelos gritos de “Nense”, antes do time adentrar o campo, encantava qualquer um que experimentasse esse ambiente.

Aliás, o desfile das bandeiras das Organizadas era um espetáculo por si só. A Força Flu, que ficava localizada à esquerda das cadeiras especiais, entrava com as suas bandeiras pelo túnel oposto, mais próximo do meio de campo. Em fila, uma por uma surgia do túnel, ganhava espaço e era desfraldada, com o seu responsável indo até a grade inferior para, em seguida, sair correndo em direção ao túnel no qual a sua torcida se localizava. Cada uma, em sequência, repetia o ritual. Eram dezenas delas, quase centena.

Em várias oportunidades, acontecia da Young Flu entrar no mesmo momento com as suas bandeiras, do túnel que ficava colado às cadeiras especiais, repetindo o movimento executado pela Força Flu, só que até o túnel que a TYF se encontrava (atrás do gol). As duas se cruzavam no meio do caminho, cada uma tomando o seu rumo. Era, como disse, espetacular. Ver aquelas bandeiras gigantes do Fluminense tomando as arquibancadas, cada torcida advinda de um lado, com todos explodindo em “Nense”, mudava meu metabolismo e o da torcida toda de uma forma inexplicável.

E ainda tinha o pó-de-arroz. Quilos e quilos de talco jogados para o ar quando o time aparecia na boca do túnel para ganhar o campo. Todos sujos e felizes ao mesmo tempo. A torcida que era multicolorida ficava branca da cabeça aos pés. Com orgulho e prazer. A nossa marca tradicional na nossa pele. A única torcida do mundo que tem a felicidade de vestir um dos seus símbolos.  De jogar para cima e apresentar para quem quiser ver o que somos.

Não tenho como falar da torcida do Fluminense e não mencionar nossas músicas. Elas eram únicas, cantadas somente por nós. Eram verdadeiras marcas registradas. Escutava-se o ritmo e a identificação era imediata. Nossa tradição de compor músicas para o Fluminense e pelo Fluminense, saindo da obviedade de copiar o que as demais cantam, permanece até os dias atuais e é motivo de muita alegria para mim.

Sinto muito a falta da nossa torcida no Maracanã. Do espetáculo que só ela sabe fazer. De encontrar na arquibancada meus irmãos de futebol. Insisto em ir aos jogos também para poder vê-la novamente. Sentir mais uma vez o que me fez ser completamente apaixonado pelo Fluminense. Domingo, como não podia deixar de ser, irei na expectativa de reencontrá-la para matar a saudade da criança que existe dentro de mim e para apresentá-la às milhares de outras que ainda não tiveram a oportunidade de conhecê-la. Quem sabe?

Saudações Tricolores,

Leonardo Bagno

ACRÉSCIMO DE TEMPO: +3

46min: Será nosso quarto jogo contra times da primeira divisão. Nos outros três, jogamos muito bem em dois e mal em um. O time está mais entrosado e forte por conta da chegada de reforços (Ganso inclusive). Aliás, será o primeiro clássico dele. Curioso para ver, no estádio, como ele e o time se comportarão.

47min: Os jogadores fizeram nova paralisação por conta dos salários atrasados. Estão certos. Trabalhador tem que receber pelo trabalho feito. Além disso, estão demonstrando a insatisfação deles, que é compreensível, com absoluto respeito ao Fluminense. Se o clube conseguir manter os salários em dia, que vem a ser sua obrigação, com o time que montou e com a atitude que os jogadores estão demonstrando, temos tudo para vivermos um ano sem sustos e até beliscar algo interessante no final dele.

48min: Neguinho da Beija-Flor, se compusesse a música em 2019, cantaria: “Domingo, eu vou ao Maracanã. Vou torcer pro time que sou fã. Não vou levar foguetes e bandeiras, pois o BEPE não deixa, pode machucar a mão. Eu quero minhas cadeiras numeradas, pois sentar na arquibancada é direito do cidadão. Porque meu time bota pra ferver e o nome dele são vocês que vão dizer (depois que o placar disser sobre as saídas A e B)… Eeeeeeeê, Nense!”


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