Somos a favor da volta do futebol sim – só que assim não!

Todos querem a volta do futebol. Eu, você, o tiozinho da esquina e todo o resto da nossa sociedade que, muito além do retorno do futebol, também anseia pelo retorno de todas as atividades naturais e normais de nosso cotidiano. Todos anseiam o retorno à vida! O problema não é querer o retorno do futebol, e sim a forma que se quer. Enquanto uns vão forçando a barra por motivos “X” – não quero entrar nessa seara – outros se posicionam ao lado da razão, ao observarem o que está acontecendo ao seu lado. E também refletem o lado da emoção, também observando o que está acontecendo ao lado. Chama-se empatia isso. Nem é tão difícil explicar assim esse posicionamento. Basta olhar números da pandemia e só, já é mais do que suficiente. Se quiser ir além, basta um clique nos sites do próprio ministério, das autoridades, onde encontraremos taxas absurdas de contaminação e óbitos.

Flamengo e Vasco, assim como os menores, desejam, pressionam, pelo retorno de forma mais imediata, por seus próprios motivos. Motivos particulares, ímpares, singulares e egoístas. Cada qual olhando para o seu umbigo. Talvez porque precisem de muito dinheiro ou para manter um elenco fora da curva, ou para pagar mais do que R$ 5 mil mensais, como foi proposto por aí. Talvez, para pessoas ligadas ao futebol, ele realmente seja um serviço essencial, Dúvida? Pergunta pra um tiozinho daqueles, que fica de costas pro gramado em dias de jogos… ele te responderá se para ele é ou não essencial. Ou para o ambulante, que vende biscoito nas arquibancadas. Mas o problema não é só o retorno, e sim o que ele desencadeará.

Ainda que pese jogarmos somente com portões fechados, a galera pensa que seria, tipo assim: cada um chega no seu carro, já uniformizado, vai direto pro gramado, o árbitro apita, acaba o jogo e cada um para as suas casas? O último a sair apaga a luz? Abrir o Maraca, ainda que sem torcida, deve mobilizar umas 300 pessoas. Isso sem falar em, pelo menos, mais 80-100 de cada delegação, membros da FERJ, delegação dos árbitros e, por fim, a imprensa. Sim, pois teremos que estar lá, não? Bom, pelo menos o Saudações vai a todos os jogos. Portanto, ainda que seja com portões fechados, como foi no último Flu x Vasco, poderia chutar umas 500 pessoas no estádio trabalhando. A maioria? chegando de transporte público.

Escrevi, no dia primeiro desse mês, uma coluna, que destaco o seguinte trecho – pois nada mudou:

Se hoje, nas periferias das grandes cidades, o comércio vai, ainda que aos poucos, voltando à sua normalidade, e contrariando à toda e qualquer orientação daqueles que realmente entendem do riscado, imaginem um jogo de futebol? Não estou falando de jogos nos estádios vazios não, com toda a “segurança” (entre aspas mesmo) para os jogadores e comissão técnica. Falo do Seu “ZÉ”, da periferia, do subúrbio, daquele mesmo que ou não tem instrução ou não acredita na doença. A aglomeração se dará na porta do botequim dele, com torcedores fanáticos. bebendo sua cervejinha e assistindo ao jogo do seu clube de coração. Ou o ministro acha que geral tem receptores de TV a cabo e são todos assinantes do Premiere? Será que ele acha que a Globo vai transmitir todos os 10 jogos da rodada, em TV aberta? Ainda que simultaneamente? Um jogo para essa cidade e outro para aquela? mas nem fo…. Isso, só considerando o Brasileirão…

O retorno do futebol nunca foi medido pela sua principal vertente de aglomeração: os botecos da vida. Ainda que tivéssemos 60 mil pessoas no Maracanã, que teriam que ir e voltar em transportes lotados, nada vai se comparar aos pequenos grupos de 100-200-500 pessoas, espalhadas por 500-1000-5000 botequins por aí. Nosso sistema de saúde não vai aguentar. E são vidas que estão em jogo. Centenas, milhares, talvez milhões.

Se posicionar do lado certo hoje pode parecer que você é contrário ao retorno do futebol. Mas, mesmo os que pensam que o Flu está do lado errado da corrente, levo a seguinte reflexão: o Fluminense Football Club é contrário ao retorno do Futebol? Chega a ser incoerente. Mas é claro que o clube é a favor do retorno. Mas não assim. Não agora. Precisamos primeiro pensar em abrandar, e muito, essa crise. Precisamos que as autoridades contenham a curva de contaminação e reduzam os óbitos. Pode-se falar em programação para retorno aos treinos com quase 1000 morrendo todo dia? Com quase 4,000 mortos no estado? Confortável discutir o retorno do futebol com esses números?

Isso porque não comentamos sobre o funcionamento dos CTs. Alguém tem ideia de quantas pessoas trabalham em CTs do tamanho de Flamengo e do Fluminense (sim, conheço os dois)? Dezenas, quiçá, centenas de pessoas, que chegam todo dia através de transporte público. E os treinos serão separados? Sem coletivos? Em horários distantes? Querem enganar a quem? Já até ameaçaram emissoras de TV que fizerem imagens aéreas. O porque disso?

Hoje, precisamos pensar na vida. Precisamos sim de planos de retomada das atividades, mas baseados no que nos dizem, em primeiro lugar, os números da pandemia, seguido pelos cientistas e demais autoridades competentes. Pois, entendo eu, se o futebol voltar, não fará mais sentido o resto da sociedade ficar parada, nas áreas chamadas não essenciais.

Para finalizar, uma coisinha rápida: não pensem que o Sistema de Saúde só atende o Covid-19, tá? Continuam os casos de câncer, infarte, acidentes, AVCs, fraturas, derrames e afins… o Covid-19 se juntou a isso tudo aí…

Eu quero o futebol de volta. Mas, em primeiro lugar, eu quero voltar para a casa são e salvo. E que, Papai do Céu não permita, mas caso eu venha ser acometido por uma doença, que eu possa ser tratado da forma que todo cidadão do bem merece.

ST