Fala, Diniz! “Futebol não é só o resultado do jogo”

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O técnico Fernando Diniz convocou a imprensa para uma coletiva depois de ser demitido do cargo no Fluminense. O treinador falou sobre o futebol no Brasil, o imediatismo por resultados e a boa relação com jogadores. Confira a entrevista completa:

Que horas foi a conversa, como foi, como você recebeu? Quando terminou o jogo achava que tinha sobrevida?

Eu fiquei sabendo de manhã… Eu esperava os dois cenários, a demissão e outra parte que torcia por mais tempo pra que tivesse mais tempo e passássemos na Sul-Americana.

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Vai mudar seu estilo? 2 clubes, mesmos resultados. Vai rever a carreira ou conceitos não mudam?

Raciocinar o que tá dando errado eu faço todo dia. Quanto mais raciocínio, mais convicção eu tenho que estou certo. Futebol não é só matemática. Peguei jogadores desconhecidos, questionados, e hoje eles são admirados pela torcida, convocados pra Seleção Olímpica. O Yoni era reserva no Júnior e hoje está no mercado Brasileiro. Luciano e Everaldo não tinham mercado e em 4 meses 10 clubes queriam eles. João Pedro e Marcos Paulo, ninguém acreditava que eles poderiam render nesse ano. O Miguel, de 16 anos, e a recuperação do Ganso. O time treinou muito, sou muito grato aos jogadores. Construímos uma relação intensa, de confiança. Acredito que o time vai decolar no Brasileiro e tem boa chance de passar do Corinthians. A maior referência que tenho que fazer é a pra torcida. Um agradecimento justo, honesto. Nunca tinha visto uma torcida apoiar um time desse jeito, mesmo com resultados negativos.

Faria algo diferente?

No supetão não. Ontem foi uma aberração nas finalizações. Os caras deram 2 chutes. Nós tivemos boas chances. O VAR erra muito contra o Fluminense. Foi chamado muitas vezes em lances duvidosos, e o lance do Goiás e ontem o pênalti no Ganso, no Daniel…. São 6 pontos. Tem coisa pra melhorar, mas tem que valorizar o que foi feito. E saber onde melhorar. Ontem foi uma coisa imponderável.

O Flu se precipitou, poderia ter esperado quinta?

Não vou falar disso. Queria agradecer ao Mário, um cara jovem e que trabalha para que as coisas melhorem. Quanto ao ficar, era meu desejo. Mas não sou eu que decido. Mas é assim no futebol. Ontem foi um dos jogos que a equipe respondeu melhor ao meu comando.

Você acha injusta que essa conta sempre caia no colo do técnico. O panorama do Fluminense é difícil, salário atrasado, perdeu jogadores? Isso atrasa o futebol brasileiro?

Sim, acho que atrapalha. Os 4 times rebaixados do ano passado jogam diferente do que jogo. Você tem que aproveitar a chance de fazer gol. A gente não conseguiu concluir, perdendo muitos jogos e pontos no campeonato. Mas essa mudança passa. Você tem que conseguir o respeito dos jogadores, das pessoas. O que aconteceu na arquibancada foi significante, o torcedor entendeu. O futebol não é só o resultado final do jogo. Dificilmente o Flu irá cair, o grupo é bom. Um dos pontos mais positivos foi no jogo contra o Atlético Nacional. Chegamos depois de 20h, almoçamos e treinamos na chuva. E todos sorriam.

Sampaoli e Barroca pensam como você, mas são poucos no Brasil. Você tem algum conselho para o próximo técnico? O que você deixa?

Deixo um time harmonioso, que trabalhou muito. Essa coisa tática é meu sub-produto. Estilo cada um tem o seu. Acredito que nas relações, serem bem tratados e acreditarem que podem, isso eu consegui. O Caio foi rebaixado e hostilizado pela torcida do Paraná, hoje está aí. Então o Flu tem tudo pra ter sucesso no Brasileiro e na Sul-Americana.

O que você pensa em fazer agora?

Moro em São Paulo, quero ficar um pouco com minha família.

Teve uma reunião na CBF com Tite e Sampaoli. Lá vocês falaram sobre resgatar a alegria do jogador e felicidade em jogar. Jogadores se despediram nas redes sociais, inclusive o Gilberto, que é reserva

Minha principal função é prestar serviço pro jogador e torcedor. No Brasileiro faltou um pouco. Dominas o Atlético Mineiro no começo do jogo. A insatisfação é normal sem resultado. E todo jogador precisa de apoio, independente de quem seja.

Daqui pra frente é seu maior desafio? Precisa de um tempo longo.

O resultado é sempre discutido. Aqueles números que aparecem também são. Aqui vai melhorar muito ainda. A minha intenção é ajudar. O jogador é sensível. Ele cede e vai sabendo que pode confiar. Aqui no Fluminense foi rápido, eles foram pegando confiança. O desafio é arrumar um jeito da bola entrar com mais facilidade.

Há pouco você agradeceu ao Abad, Fabiano e Mário. Mas não citou Celso. Tem algum problema com ele?

Pessoas que tive mais próximo são esses 3.

Ontem na zona mista os jogadores falaram que estavam fechados contigo. Com foi a despedida? Algum incentivo?

Foi emocionante, interessante, profunda. Um dos grandes momentos que tive.

Marcão assume agora. Você esteve com 2 meses ele. O que você acha dele. A torcida tem dúvida…

Marcão é profissional, muito bem, tem o outro Marcão, o Salgado. Eles seguram até que se decida o novo treinador

Chama atenção a relação próxima com os jogadores, vários citaram você, o MP, JP, Yoni, Miguel, Julião…. Você cobra muito deles no campo e muito se diz que “eu passo o conhecimento, mas eles me ensinam também”, o que você aprendeu do elenco?

Me acolheram, me suportaram. Carga de treino pesado. Mas jogador percebe quem gosta deles e quem não gosta. E eles perceberam rápido. Gilberto é um cara nota dez.

Diniz, no Brasil tem muitos rótulos. Novos técnicos x velhos, e a imprensa é culpada. Tem o técnico estrangeiro, o que troca passes, o que joga mais fechado. Isso tudo é rótulo. Até que ponto atrapalha?

Essa pressão exagerada por resultado. Tem treinadores com boas ideias, que é forçado a mudar pra não perder o emprego. Eu sou convicto do que estou fazendo. Não faço nada pra ser diferente, faço o que acho que é melhor. Se algum dia eu quiser mudar não tenho problema. Mas gosto de fazer o futebol que eu gosto, que é melhor pros jogadores. O nível do futebol praticado no Brasil é condizente com a falta de títulos da Seleção. Lá fora os jogadores são mais racionais, sabem o que querem. Quantos anos o Low ficou na Alemanha até ser campeão? O Ajax demorou pra conseguir deslanchar…A gente tem que se preocupar em formar gente, não jogador. Aí vão ser jogadores melhores. Nossa carência de estrutura social é muito grande. Os clubes deveriam fazer mais esforço quanto a isso.

O Celso veio junto com Mário pra ser o homem do futebol. Você sentiu que logo na declaração quando assumiu de que futebol é resultado ele não queria  sua presença? Acha que o voto dele pesou mais?

Ele não atrapalhou porque os jogadores não foram afetados por nada. A gente estava jogando bem. Ganhamos do Peñarol lá e aqui. Perdemos por infelidade em alguns jogos. Eu procurei focar em quem tava claramente junto. É um cara que aparece, vai lá pergunta, quer ajudar o Fluminense.

Tá magoado com ele?

Não, absolutamente. Tenho que ficar chateado com quem eu gosto e gosta de mim.

Treinos seus a gente não pode assistir um dia. Talvez isso faça falta pra nós avaliarmos o que você pensa. O que você acha de a imprensa ter mais acesso pra poder avaliar melhor?

Talvez. Mas como a imprensa vai tratar quando você abre? Se abre pra 1 abre pra todos, ai tem um treino e tem fofoca, aí não tem como. Eu gostaria de ter uma relação melhor com vocês. Mas na europa é fechado, mais que aqui. Mas é uma construção muito ficcíl. Quando a relação for violada, dificulta. Ah, um jogador entrou mais forte no outro e sai no outro.

Diniz, sobre o VAR no Brasil? Jogadores e técnicos falam com cautela aqui. O Fluminense teve alguns lances que o VAR não foi utilizado de forma correta.

O Flu foi muito prejudicado pelo VAR, são 6 pontos que me lembro. Tem lance de interpretação, mas contra o Goiás e ontem não dá, é escandoloso não marcar pênalti no Ganso.

Confira no vídeo, transmitido ao vivo por nossa equipe presente no local:


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4 thoughts on “Fala, Diniz! “Futebol não é só o resultado do jogo”

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