Fala, professor! Roger: ‘Fomos premiados’

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Técnico Roger Machado após vitória em clássico sobre o Flamengo
Foto: Divulgação/FFC

 

Por Caio Ramos e Gabriel Gonçalves

Após a vitória nos acréscimos sobre o rival Flamengo neste domingo (4), pela nona rodada do Campeonato Brasileiro, o técnico Roger Machado exaltou a postura do time no segundo tempo, mas reconheceu que “ainda tem muita coisa para corrigir”.

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Mudança de postura do primeiro para o segundo tempo 

“Nunca se faz uma programação para dar o controle do jogo para o adversário e oportunizar mais volume a ele. O que a gente faz é tentar buscar uma jogada de velocidade nas costas. No primeiro tempo, mesmo com o meia de criação, a gente usou muito pouco o Cazares para controlar o jogo, para articular. Nós devolvemos a bola com velocidade para o Flamengo e dentro da sua característica de buscar o controle do jogo, ficou mais com a bola, criou algumas oportunidades. Mas as oportunidades foram em transição de contra-ataque, quando estavam em bloco baixo, não pela superioridade de ter a bola. Uma jogada de escanteio, de bola parada, com uma bola no travessão.

No segundo tempo, sobretudo depois que fizemos as alterações para tentar explorar um pouco mais esse volume do Flamengo, apostando no arrasto dos jogadores de beirada, na profundidade do Lucca por dentro. Acho que funcionou bem. A gente passou a empurrar, a fazer o Flamengo se preocupar com as costas, criamos oportunidades na individualidade do Luiz, do Biel, profundidade do Lucca. Fomos premiados com o segundo tempo superior ao nosso adversário, não no que se diz respeito às oportunidades geradas, nem tanto pela posse de bola. Fomos premiados com um gol no final em que nos deu a vitória em um clássico importante, numa semana bastante tensa, em função do último jogo, mas que prova que esse grupo reage bem a esses momentos, e reagiu mais uma vez e recoloca as coisas nos trilhos, num momento importante de viés de subida, sobretudo nos jogos de Libertadores e Copa do Brasil que a gente tem logo ali na frente.”

Primeiro tempo ruim

“É característica da equipe do Flamengo pressionar muito e, quando perde a bola, buscar retomar em bloco alto. A gente não conseguiu organizar essas ações com mais lucidez, sobretudo os momentos que a gente conseguiu inverter o corredor e fez a bola entrar no outro lado, conseguimos progredir, chegar no terço final e perto do gol do Flamengo na primeira etapa. Mas em outros momentos que a gente dava na zona central para o Flamengo pressionar de frente havia uma retomada. Mas não é planejado e a gente sempre tem que contextualizar com a capacidade e tipo de jogo do adversário, gostaria de poder ter ficado mais com a bola, de ter feito o Flamengo sofrer através da posse, mas nosso time não nos permite muitas vezes ter esse tipo de jogo.

– Temos que nos adaptar às características dos nossos jogadores. Na segunda etapa, buscando um pouco mais da velocidade em função até do Flamengo buscar o gol, a gente teve espaço e conseguiu aproveitar as costas. Foram dois tempos distintos, mas não menos importantes, fomos premiados com o gol no final que nos deu essa vitória que nos recoloca nos trilhos.”

Substituições 

“Eu me movimento de acordo com o que está acontecendo no jogo. A intenção de não trocar no intervalo, quando o placar está zerado para os dois lados é acreditar que com a conversa no vestiário você vai voltar diferente. A partir do momento que você perceber que isso não está acontecendo, começamos a lançar as substituições, mas nunca pensando na estrutura. A estrutura se altera e pode ser alterada com a mexida de características das substituições, como aconteceu hoje.

Ao colocar o Lucca na frente, que é um jogador de velocidade, a estrutura é a mesma, mas a característica mudou. A gente não pode ficar muito preso ao desenho que está dentro de campo sem pensar nas características dos jogadores. Eu posso alterá-la de várias formas, entre elas, mudando a característica do jogo como eu fiz hoje. Não tem mágica no futebol. Por vezes se pede alternâncias, mas como é que o treinador vai ter alternâncias de estrutura dentro de um cenário que você tem um jogo a cada três dias? Hoje, o treinador de futebol precisa escalar bem e trocar bem, porque não há tempo para mexer na estrutura. Caso contrário, você corre o risco de desestabilizar o mecanismo que vinha dando certo.”

Críticas da torcida 

“Eu não tenho mídias sociais. Eu não olho o que escrevem a respeito de mim e do time, é uma forma da gente se blindar, mas evidentemente que a atmosfera e o ambiente pesado ficam perto de você.

Tento lidar com a melhor naturalidade possível. Mas eu entendo esse movimento da internet e penso que  desses agentes do futebol, que somos nós, treinadores, jogadores, vocês da imprensa, torcedores, o problema ele acontece quando cada um quer entrar no ambiente do outro. Quando eu quero pautar o que você devem me perguntar, acreditar que a pergunta é certa ou ruim ou boa, e não desejar responder. Quando o torcedor quer fazer jornalismo através da rede social ou fazer futebol tentando pautar quem eu devo tirar ou colocar, ou quando a imprensa deseja fazer futebol muitas vezes se manifestando como torcedores.

Esse respeito e essa convivência têm seus limites, e como profissional, eu entendo todos os lados, mas eu não me movo pelas críticas. Eu preciso ter autonomia para tomar minhas decisões. Eu respeito o torcedor quando ele não gosta das substituições, das escalações, da forma como o time joga, mas eu não abro mão da minha autonomia. Eu prefiro ficar com as minhas convicções. E também não vejo (as mídias sociais), quando sou elogiado. Seria injusto se eu não visse só as críticas e aceitasse os elogios.”

Nenê e Cazares 

“Acreditei que a gente precisava ter um pouco mais do jogo de posse, um meia mais articulador do que o Nenê, que também articula, mas joga mais em profundidade, para que a gente tentasse sair mais apoiado. O que não aconteceu no primeiro tempo foi que, nos momentos que o Cazares chegava perto da bola, a gente levava a bola para longe dele, não acionava devidamente para que ele pudesse articular. As poucas vezes que ele tocou na bola, ele conseguiu dar prosseguimento ao jogo, principalmente nas inversões de corredor.

O Nenê é sempre uma opção. Claro que quando você entra depois que o jogo já está quente, você perde ritmo, isso é a parte ruim do processo. Mas você com o tanque cheio, e os jogadores já com a energia reduzida, pode dar uma vantagem para um jogador com as características dele. Tudo é possível. Ele entrou bem realmente nas duas vezes que saiu do banco. Agora depende muito do que a gente espera para a partida. Hoje ele foi muito bem de fato.”

Resposta dos jogadores que vêm do banco 

“Não é porque nós vencemos o clássico que está tudo certo novamente, ainda tem muita coisa para corrigir, mas de fato a vitória no clássico, da forma como foi, dá uma tranquilidade maior.

Eu entendo o processo dessa forma: lá no começo do ano, quando o Michel Araújo ainda estava aqui, eu chamei ele e Caio Paulista e disse que Biel e Kayky passariam na frente deles para ver se os dois poderiam ser incorporados. No Estadual, eles foram muito bem, e o Caio se resignou a trabalhar, esperando essa oportunidade. Quando eu também passei o Lucca da fila, ele baixou a cabeça e trabalhou. Isso é acreditar no comando, saber que o processo é esse. Lucca vinha fazendo grandes treinos, e eu sempre frizava ‘continua assim, continua assim’, quando aparecer a brecha, eu vou colocar em campo. O André da mesma forma. É um processo diário que o torcedor não tem acesso, até porque hoje em dia, tem poucas imagens do dia a dia dos jogadores, de como funciona essa evolução.

Deixando todo mundo em ponto de expectativa, em otimismo, que pode ser usado também gera bons frutos para a gente. Isso vai acontecer com o João Neto, com Matheus Martins, Gustavo Apis, mas a gente tem que ter cuidado para não colocar esses jogadores na fogueira, por causa da demanda de jogos, lesões e suspensões. Esse é o processo que eu acredito. Luiz, Biel, Kayky, Calegari não são jogadores prontos, são grandes jogadores, mas que precisam de tempo e espaço para poder, inclusive, atravessar maus momentos para se tornarem maiores.”

Ausência de centroavante no banco

“O John Kennedy não vem sendo relacionado pelo fato de não estar à minha disposição ainda. O João Neto eu coloquei um pouquinho no outro jogo, ainda falta muita estrada para o João, e hoje era um jogo decisivo, clássico… Eu preciso também entender que há um processo a ser cumprido. Eu levei para aquele jogo (CAP) para colocar um pouquinho em campo, mesmo diante daquela adversidade, para ver como o jogador se comporta.

Esse processo é gradativo, assim como foi com o Luiz (Henrique). Conversando com ele, falei “vamos dar um passo atrás, fazer com que você readquira sua confiança no jogo”. Às vezes, em vez de melhor ainda faz perder a confiança. “Então, vou te tirar de uma relação para você esvaziar a cabeça, não pensar num processo de jogo a cada três dias, voltar para o treinamento e ganhar a confiança no seu jogo a partir do treino”. Hoje a gente já viu um Luiz diferente, já renovado, indo para cima, dentro da sua características. Isso faz parte das minhas atribuições.”

Próximo jogo

Após uma sequência de quatro jogos, o Fluminense volta a vencer no campeonato e chega à sétima posição na tabela com 13 pontos. O próximo adversário do Tricolor será o Ceará, pela 10ª rodada do Brasileirão, em São Januário, na quarta-feira (7), às 21h30.

 

 

 

 


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